sexta-feira, 24 de maio de 2013

LETRAS E ARMAS


            O inusitado sempre acontece, assim como as lições que recolhemos seguidamente são refutadas pela sucessão, que poderia suavizar seu andar. Assim, se viver é difícil, morrer é pior. Morre-se também vivendo mal e aí se morre aos poucos. Triste é quando nos matamos pelo despreparo que aniquila tudo. Por isso somos instados a viver em eterna vigilância, perseguindo sempre a dignidade. Ilustra esse introito dito de Guimarães Rosa em Grandes Sertões e Veredas: “Viver – não é? - é muito perigoso. Porque ainda não se sabe. Porque, aprender- a -viver é que é o viver, mesmo.”.

            O fato em evidência no meio castrense estadual centra-se na prisão controversa do Oficial da Brigada. Dos ditos internos, reproduzo confidência de um Oficial de proa: “Cada dia se torna mais difícil manter-se na ativa com ideais de grandeza institucional”. É forte o dito, mas, pela sua relevância, deve suscitar uma reflexão crítica interna corporis. Mesmo que o Comandante Geral tenha garantido que irá dialogar com o acusado e tenha manifestado que a ação foi desenvolvida com isenção e que o próprio respaldo judicial de primeira hora abaliza o agir da Corregedoria, não se retira a marca da precipitação e do constrangimento, em tese, perpetrado.

            Levarei aos meus amigos e colegas a preocupação do Comandante, mas, em respeito a sua pessoa e até mesmo a dos atores do triste episódio - pessoas do bem e trabalhadoras - também centro minha avaliação na falta de visão contextual, aliada a uma falta de cultura geral e até institucional do todo. Nossa gente lê pouco, e quem não lê está fadado a imitar e a refletir pouco. Portanto, nunca será um protagonista inconteste, sendo-lhes dificultoso discernir quando um ato de um miliciano possa ter ferido valores fundamentais da vida da caserna. No caso em pauta, abdicaram de uma ação serena em sede administrativa e com as reservas que a lei garante. Parece ter faltado a devida proporcionalidade entre o aponte e a ação encetada.
            Desse episódio inusitado, evoquei Dom Quixote, de Cervantes, que enaltecendo as letras em comparação com as armas disse: “O objetivo das letras, digo das letras humanas é entender e fazer com que as boas leis sejam obedecidas, isto é, por em pratos limpos a justiça distributiva e dar a cada um o que é seu”. Esse escrito me move a dizer que o aprimoramento de uma Instituição requisita dos seus, para melhor avaliarem os fatos, o apego aos bons livros, frequência em cursos bem concebidos, que requisitem literatura mínima, pois do contrário o trato com o “Crime será sempre o Castigo”; jamais seremos “O Príncipe” e nem ao menos “O Pequeno Príncipe”, talvez só “Os Miseráveis”, sem “Grandes Esperanças” e, por fim, daremos ou nos darão “Adeus á Armas” e viveremos “Cem Anos de Solidão”.

            O certo é que a Brigada não conta no seu oficialato com “Homem sem Qualidade”, de “Vida Líquida”, mas se inexistir outro motivo a dar causa ao sofrimento do nosso colega e amigo de tantos, espera-se o restauro do mal feito por uma boa “Conversa na Catedral”, e, após, que se reafirme ao Governador que a Brigada não se submete a pretensos “Donos do Poder”, mas somente ao primado da lei, até para a necessária depuração dos seus quadros. Nem sempre acertamos, mas é certo que “Ainda Resta uma Esperança”, a de que não ficaremos de braços cruzados a nos perguntar “Por Quem os Sinos Dobram”, pois aí diremos que é por todos nós, porque a desgraça de um colega nos diminui, já que somos parte do gênero brigadiano.

Coronel RR Nelson Pafiadache da Rocha